“Numa
sociedade cada vez mais exigente em que tudo, também parece fácil de obter, os
intervenientes no contexto desportivo tem de tomar consciência e preocupar-se
com a falta de atividade física e desportiva dos nossos jovens no seu
dia-a-dia, além do seu abandono precoce.
O abandono
precoce surge porquê? Concluímos pelos estudos em análise que os possíveis fatores
de abandono precoce desportivo serão os treinos monótonos, treinos demasiados
agressivos, a estagnação e os maus resultados, a dificuldade de conciliar os
estudos e o desporto, a envolvência de pares e familiares, finalmente a
saturação do ritmo desportivo e competitivo. A todos os intervenientes
desportivos cabe uma introspeção sobre os fatores de abandono, com uma
orientação consciente e sustentada será possível inverter o abandono precoce do
desporto pelos jovens.”
Introdução
O desporto valoriza
socialmente o homem, proporciona uma melhoria do seu auto-conceito, e a
aprendizagem de uma modalidade desportiva constitui uma das mais significantes
experiências que o ser humano pode viver com o seu próprio corpo. O desporto
pode ser algo de muito benéfico na vida de qualquer ser humano, ajudando-o na
sua educação e na sua formação pessoal. Numa sociedade cada vez mais exigente
em que tudo também parece fácil de obter, os intervenientes do contexto
desportivo têm de tomar consciência e preocupar-se com a falta de atividade
física e desportiva dos nossos jovens no seu dia-a-dia, como também do seu
abandono precoce.
O abandono precoce surge
porquê? pela desilusão da modalidade e do desporto? Pela pressão exterior dos
pais e dos técnicos? Do trabalho árduo? Por uma especialização demasiada
precoce? Por outros desafios ou outros interesses que surgem na vida dos
jovens?
Num estudo sobre o Abandono
e as suas motivações realizado por Oliveira et al (2007) verificou-se que 42%
dos indivíduos abandonavam a natação nos escalões mais jovens (juvenis), em júnior
33% e somente 8% em seniores, perfazendo uma média de 16 anos de idade para o
abandono da modalidade. As motivações para esse abandono seriam os resultados
negativos, a falta de apoio, as lesões, a falta de conciliação dos
estudos com o desporto, a rotina dos treinos e a falta de integração social. A
consecução dos resultados desportivos sendo um dos fatores de maior influência
para o abandono precoce, verifica-se que grande parte dos melhores desempenhos
desportivos foram atingidos enquanto nadadores infantis.
Num estudo realizado com
jovens em França verificou-se que as causas de abandono prematuro da prática da
Natação Desportiva (Boulgakova, 1990) seriam principalmente a estagnação de
resultados, o aparecimento de outros interesses, a dificuldade de conciliar o
desporto e o estudo, os problemas ou a mudança de treinador, a influência dos
pares, o excesso e a monotonia dos treinos. No mesmo estudo mas com atletas de
alto nível os fatores de abandono seriam a estagnação, a dificuldade de
conciliar o desporto e o estudo, os problemas ou a mudança de treinador, os
maus resultados, o excesso e a monotonia dos treinos.
Num estudo realizado em
Portugal sobre as causas das decisões do abandono da Prática Desportiva
(Vasconcelos, 2003) nos atletas de elite seriam o cansaço do calendário
desportivo, o estilo de vida, a falta de meios para ir mais longe, a consecução
da obtenção dos seus objetivos pessoais, a dificuldade de conciliar o desporto
e o estudo, os maus resultados.
Concluímos pelos estudos
que os possíveis fatores de abandono precoce desportivo serão os treinos
monótonos, os treinos demasiados agressivos, a estagnação e os maus resultados,
a dificuldade de conciliar os estudos e o desporto, a envolvência de pares e
familiares, finalmente a saturação do ritmo desportivo e competitivo.
Motivação
O estudo da motivação tem
um papel determinante no conhecimento da formação e da educação dos jovens para
a prática desportiva. Pois serão fatores que conduzem a determinados comportamentos
para atingir certos objetivos. Samulski (2002) refere a motivação como a
totalidade dos fatores que determinam a atualização de formas de comportamento
dirigido a um determinado objetivo. São os fatores pessoais e sociais que
favorecem a persistência ou o abandono de um comportamento. É uma dimensão
intensiva em que os indivíduos se dedicam a realizar uma determinada tarefa
(Roberts, 1992; Escarti e Cervello, 1994; Escarti e Brustad, 2002). Fernandes
(2004) afirma que para melhor compreender o comportamento desportivo dos
indivíduos e para mais corretamente e eficazmente intervir, é necessário
conhecer as razões pelas quais selecionam determinadas atividades e nelas
persistem. O organismo pode estar preparado ou não, a motivação é um aspeto da
seleção do processo, é um aspeto de antecipação ao serviço dessa própria seleção.
Sabendo que a motivação são os fatores que respeitam a dinâmica comportamental,
fomentando a sua participação e persistência na modalidade.
Santos (2008) realizou um
estudo sobre os fatores motivacionais que mantinham os indivíduos na prática
competitiva e se essas motivações se alteravam com os anos de prática.
Verificou-se que os indivíduos que estavam na competição privilegiavam o
desenvolvimento de competência/habilidades (as motivações de melhorar as
habilidades; aprender novas habilidades) e que quanto mais tempo estavam na
competição, a esses fatores se somavam os fatores da Forma Física ( as
motivações de querer ficar em forma, gostar de fazer exercícios, querer estar
fisicamente apto) e da Afiliação geral (as motivações de gostar do
trabalho de equipa, gostar do espírito de equipa ou de pertencer a uma equipa).
Um dos fatores que evoluiu
com o tempo foi o fator da Emoção (gostar de estímulo, gostar de ação,
gostar de desafios, querer extravasar tensão e querer ganhar energia).
Autoconfiança
Um constructo de grande
importância para o ser humano é o da autoconfiança, pois revela a forma como
estamos consciente e preparados para realizar algo. Um contexto orientado para
a motivação da tarefa é positivo para a Autoconfiança. Cruz e Viana (1996)
afirmam que os jogadores mais bem sucedidos ou que competem a um nível mais
elevado apresentam valores de confiança mais altos nas suas capacidades
e ainda aumentam a sua autoconfiança quando atingem os seus objetivos.
Existe uma correlação direta entre a autoconfiança e o sucesso na competição
(Williams, 1993). Quanto mais baixa a autoconfiança do atleta mais importante
se torna o sucesso e maior é a importância de se determinar metas alcançáveis.
Num
estudo sobre a evolução da Autoconfiança num contexto de treino com um clima
motivacional para a mestria em jovens nadadores (Santos, 2007) verificou-se que
existia um acréscimo da autoconfiança nos indivíduos presentes. E que esses
valores de autoconfiança aumentavam tanto em jovens do sexo masculino como
feminino.
A
autoconfiança por si só não irá transformar o indivíduo no melhor atleta do
mundo mas ajudá-lo-á a melhorar, pois a autoconfiança emerge como uma
característica essencial dos atletas para se proteger de disfunções de
pensamentos e de sentimentos negativos. A boa forma física e a técnica dos
jovens reflete-se nos bons níveis de autoconfiança que se adquirem com o
empenho nas tarefas e nas atividades. Num desempenho com sucesso numa tarefa
orientada para a mestria espera-se um aumento da autoconfiança porque os
indivíduos vão percebendo que as suas habilidades se vão reforçando e
melhorando.
Os
atletas que têm uma alta perceção da sua habilidade adotam um objetivo para a
tarefa e perseguem um clima de mestria com uma motivação intrínseca acentuada.
Weis e Ferrer-Caja (2002) referem que uma informação vinda de uma fonte
exterior num ambiente de aprendizagem é uma influência potencial para a
motivação intrínseca dos indivíduos.
A prática orientada leva ao
aumento das representações, passando o atleta a ter um conhecimento mais
profundo do que faz. A prática para surtir os efeitos pretendidos não se pode
ficar pela quantidade mas principalmente pela qualidade (Alves, 2004). A
necessidade de entender o nadador como um indivíduo com um complexo sistema de
transformação, disponibilização e utilização de energia (Villas-Boas, 2000). O
empenho nas atividades desportivas durante um período tão longo como a
modalidade da natação, apenas será possível se tiver um significado e um
empenho pessoal por parte do atleta (Serpa, 2002).
Treinador
No contexto do treino o
treinador não se limita ao seu papel de ensino, tem sido um poderoso agente
social (Brito, 2001). Ele não só estrutura a prática ou as aprendizagens afetando
os jovens nas suas perceções de competência, nas suas motivações, nos reforços
que comprometem a informação ou a avaliação correspondendo ao desempenho
específico realizado como a realizar a posteriori. O treinador é um elemento
que maximiza de forma deliberada a prática, as aprendizagens e as habilidades
dos seus atletas de forma a ser o melhor preditor do sucesso dos seus jovens
facultando as ferramentas e as fontes necessárias (Salmela, 1996). Cabe-lhe a ele
preparar o contexto para potenciar o desempenho desportivo. Ele tem de
compreender o modo de intervir e de ter a capacidade de transformar os seus
conhecimentos num processo que culmina no produto final.
O Treinador tem o papel de
ser um “facilitador” de aprendizagens, tem de ser um “proporcionador” de
ambiente para as aprendizagens, um “estruturador” das tarefas mais adequadas
para a aquisição de conhecimentos, de ser um “formador” de atletas e de
cidadãos.
Conclusões
Neste
contexto desportivo tão delicado como o desporto para jovens e crianças será de
total importância os intervenientes desportivos estarem conscientes de toda uma
complexidade de processos para manter os nadadores na atividade desportiva. Que
a formação dos intervenientes desportivos não se fica pelo senso comum, mas sim
para uma formação estrutural de forma a estarem sensibilizados às constantes
mudanças comportamentais dos jovens. A importância da compreensão dos fatores
individuais, tal como a melhoria e a formação dos jovens como cidadãos e
atletas. E que é possível aumentar a persistência dos indivíduos na modalidade,
possibilitando a satisfação das suas necessidades.
As sugestões seguintes são
pressupostos subjacentes para a melhoria e o combate ao abandono precoce das
crianças e dos jovens desportistas:
- Proporcionar uma atividade física saudável;
- Privilegiar as aprendizagens das técnicas;
- Exercícios multifacetados;
- Prática divertida e estimulante;
- Orientar para uma motivação intrínseca;
- Auto-estima estimulada;
- Maior importância ao processo do que ao produto;
- As atitudes devem ser valorizadas e constantes (ensino);
- Valores associados à prática desportiva para uma continuidade a longo prazo;
- Diversificar o treino;
- Definir os objetivos da prova e do treino;
- Fornecer imediatamente o FB da prova e dos treinos;
- Criar um clima de confiança inter e intra equipa;
- Melhorar as “etiquetas” que facultamos aos nadadores;
- Elaborar atividades paralelas e extra-desportivas ao calendário competitivo.
Artigo de: Sebastião Santos
Doutorando em Ciências do Desporto (UTAD)
Mestre em Psicologia do Desporto e do
Exercício
Professor do Ensino Básico
Treinador de Natação
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