Foto: Câmara Municipal de Setúbal |
Uma conferência que abordou o desporto como património da humanidade
teve lugar ontem, ao fim da tarde, no Salão Nobre dos Paços do Concelho,
no âmbito da Comemorações Nacionais do Dia Olímpico, que se assinala a
23 de junho.
Pedro Manuel-Cardoso, antropólogo, museólogo, investigador e membro da
Comissão de Cultura e Desporto do Comité Olímpico de Portugal, foi o
orador da conferência, organizada em parceria pela Câmara Municipal de
Setúbal e pelo Comité Olímpico de Portugal, do programa de Setúbal
Cidade Europeia do Desporto 2016.
O investigador sublinhou a importância da distinção de Setúbal como
Cidade Europeia do Desporto em 2016, facto que coincide com a realização
dos Jogos Olímpicos do Rio de janeiro e com o tema “Desporto,
Património da Humanidade”, proposto este ano pela Unesco e pelo Comité
Internacional dos Monumentos e Sítios.
“A razão pela qual o desporto é património ajuda a compreender como o
olimpismo o originou e explica-o. É isto que justifica a escolha do nome
desta conferência de celebração do Dia Olímpico”, referiu Pedro-Manuel
Cardoso.
O desporto, segundo o investigador, é “um dos mais eficazes sistemas de
regulação do comportamento humano e, simultaneamente, de invenção de
novas motricidades. É por causa disso que o Desporto é Património da
Humanidade. E é essa compreensão que importa atualizar hoje, aqui, em
Setúbal, na Cidade Europeia do Desporto.”
esse sentido, Pedro Manuel-Cardoso frisou que o olimpismo mostra que o
desporto é um domínio do comportamento humano “completamente diferente e
autónomo da saúde, do exercício, da motricidade e das práticas lúdicas e
recreativas” e que, “ao ser uma ética através da competição, é já em si
mesmo uma pedagogia”.
Por isso, defendeu a necessidade de se conciliar a educação física e o
desporto nos conteúdos curriculares do ensino básico e secundário. O
desporto, considera, não deve ser, “como na atual política, uma coisa à
parte, prescindível, colocada nas atividades extracurriculares”.
O investigador vincou, igualmente, que um “bom projeto de património”
para o futuro será o desporto “incluir nas suas competências científicas
e profissionais o digital e a robótica molecular”, pois “um dia, alguém
terá de preparar os quadros competitivos, validar os resultados
desportivos e preparar o treino verificando essa exigência”.
Manuel-Cardoso falou também em Setúbal sobre o projeto da Casa da
Cultura do Olimpismo, do Comité Olímpico de Portugal, que foi
apresentado ao Governo em março. O objetivo é criar um espaço que conte a
história da participação de Portugal nos Jogos Olímpicos e “ofereça às
pessoas e à sociedade a compreensão do olimpismo de modo competente e
credível”.
O equipamento terá as valências de arquivo, biblioteca, museu e espaço
para exposições. “Será um lugar de memória, um sítio cultural e uma
agenda de lazer e eventos. Permitirá compreender o desporto desde os
primeiros Jogos Olímpicos até à atualidade, enquanto instituição humana e
social que percorreu um percurso histórico de 2791 anos.”
Tendo como objetivo a valorização do património do desporto como
elemento “crucial para a identidade das comunidades a nível local e
regional”, Pedro Manuel-Cardoso recordou, ainda, a proposta que fez no
dia 20 de abril, na Assembleia da República, para a constituição de um
grupo de trabalho de definição da estratégia do Estado na gestão do
património desportivo português.
A proposta foi aceite e dará origem a uma resolução da Assembleia da
República que fará uma recomendação ao Governo. Nesse grupo de trabalho
estarão dois representantes das autarquias, designados pela Associação
Nacional de Municípios Portugueses e pela Associação Nacional de
Freguesias.
“A responsabilidade do Estado pela gestão do património do desporto tem
de ser realizada através de diversos museus, trabalhando em rede e
complementaridade. Logo, o trabalho de gestão do património em cada
município é imprescindível para preservar e transmitir os seus valores e
benefício.”
concluir a conferência, Pedro Manuel-Cardoso frisou que a compreensão
do desporto e do olimpismo “beneficia as pessoas e a sociedade, e é um
esforço que exige rigor científico e uma responsabilidade partilhada”.
Acresce que essa compreensão do desporto “ajuda a mudar e a
desenvolver” e “não apenas a melhorar os conteúdos curriculares de quem o
ensina ou a planear a sua intervenção no desenvolvimento local e
regional, mas também a necessária e urgente reforma da política pública
de desporto”
Texto: Câmara Municipal de Setúbal
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