Foto: Câmara Municipal de Setúbal |
Experiências surpreendentes na vela de alta competição foram
partilhadas com o público no dia 11, num encontro que juntou João
Cabeçadas e João Rodrigues, dois dos maiores velejadores lusos,
homenageados pela Câmara Municipal e pelo Comité Olímpico de Portugal.
Na primeira pessoa, os dois velejadores partilharam com a população, sobretudo estudantes, no Fórum Municipal Luísa Todi, momentos das carreiras desportivas na iniciativa “Experiências Surpreendentes em Desporto – A Vela Mundial de Alta Competição”, do programa de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016.
“Na primeira vez que velejei no vasto azul, com 9 anos, soube que era aquilo que queria fazer para o resto da vida”,
afirmou João Rodrigues, atleta da prancha à vela, natural da madeira,
que tem o registo de mais participações lusas nos Jogos Olímpicos, sete,
de Barcelona, Espanha, em 1992, ao Rio de Janeiro, no Brasil, em 2016.
Campeão do mundo em 1995 e vice em 2008 e campeão da Europa em 1996,
1997 e 2008, o interesse de João Rodrigues pela vela e pelo mar surgiu
de forma peculiar. Estranhamente, foi o genérico da telenovela
brasileira “Água Viva”, dos anos 80, que o cativou. “E resultou numa vida em pleno de significado”, confessou.
Mais do que títulos e galardões, a maior conquista do atleta não é materializada em simples taças ou medalhas. É algo maior. “Sempre
quis velejar na perfeição. E acho que o faço. Esse foi o melhor prémio
da minha carreira. E não é ser presunçoso. É, simplesmente, uma coisa
natural.”
Para João Rodrigues, “o mar do mundo” é a sua casa. A
determinada altura da carreira, os Jogos Olímpicos cruzaram-se no
percurso desportivo. Recorda que, para Barcelona, classificou-se “in extremis”. Desde então, por sete ocasiões e até à competição deste ano, nunca mais falhou uns Jogos.
“Demorei 28 anos a perceber o que realmente significava participar nos Jogos Olímpicos. Percebi este ano, no Rio de Janeiro”, confessou o atleta, que foi porta-estandarte da Missão Olímpica Portuguesa no Brasil. “Foi um sentimento indiscritível e que culminou com o cair do pano de uma carreira com 35 anos.”
Na intervenção “A Experiência da Vela de Alta Competição com a presença
em sete Jogos Olímpicos – de Barcelona 1992 ao Rio 2016”, o velejador
partilhou ainda com o público que encheu o Fórum Municipal Luísa Todi
recordações de infância e dos primeiros tempos em cima de uma prancha.
“O primeiro desafio, aos nove anos, foi fazer um pequeno percurso com cerca de trezentos metros, até a um pequeno ilhéu na Madeira. Demorei um ano até conseguir”, recordou. A partir daí foi sempre a somar conquistas, cada uma mais ambiciosa do que a outra e sempre com a mesma filosofia.
Na prancha à vela fez pequenos percursos na Madeira, nos Açores e
também em Portugal continental e em vários locais da Europa. A maior
superação aconteceu em 2011, com o velejador a cruzar, ao longo de dez
horas consecutivas, as 163 milhas náuticas que unem a Madeira às Ilhas
Selvagens.
Em Setúbal, João Rodrigues apresentou ainda o documentário “Entre o
Vento e o Mar”, sobre aspetos da vida e carreira, e deixou um elogio a
João Cabeçadas. “É um cidadão do mundo e uma referência no desporto. Devem ter orgulho neste setubalense”, afirmou.
As experiências surpreendentes continuaram com João Cabeçadas, que
partilhou o percurso profissional no tema “A Vela Oceânica de Alta
Competição e a Experiência como Membro da Equipa Suíça ‘Alinghi’ de Vela
de Alta Competição – catamarãs em hydrofoils”.
O Clube Naval Setubalense foi a escola de João Cabeçadas. Aprendeu a
velejar com o pai, atividade que conciliou sempre, em competição e pelo
simples lazer, com os estudos académicos. Na Escola Náutica Infante D.
Henrique tirou o curso de pilotagem e, durante largos anos, esteve
ligado à marinha mercante.
Na vela oceânica, com a equipa suíça Alinghi, participou na Volvo Ocean
Race, na America’s Cup, na qual se sagrou duas vezes campeão, e
atualmente compete na Extreme Sailing Series, prova na qual tem como
adversário o amigo João Rodrigues, membro da Sail Portugal – Visit
Madeira.
Na apresentação, João Cabeçadas revelou aspetos que fazem da vela
oceânica um desporto surpreendente. Na Volvo Ocean Race, competição que
dá a volta ao mundo, há etapas de 35 dias, dia e noite a bordo das
embarcações, com um conjunto de constrangimentos que constituem uma
autêntica superação.
“A comida é desidratada, para não pesar tanto. A água que consumimos, para beber e cozinhar, provém de um processo de osmose que transforma a água salgada em doce”, partilhou o atleta. A prova é difícil e exige preparação física e mental. “O medo existe e está lá para nos proteger. O pânico é o verdadeiro inimigo”, afirmou.
Conta com 16 travessias do Atlântico, três do Índico e duas do
Pacífico. Participou em três voltas ao mundo em vela. Atualmente,
integra a equipa de terra do Alinghi, vencedora das 31.ª e 32.ª edições
da America’s Cup e concorrente na Extreme Sailing Series – catamarãs em
hydrofoils.
A nova aventura na carreira, na Extreme Sailing Series, é aliciante. “São
embarcações mais pequenas mas extremamente rápidas, atingindo
facilmente os 30 nós. Literalmente voam sobre o mar. Poucas embarcações
conseguem atingir aquelas velocidades”, adiantou o atleta.
Aos jovens presentes no Fórum Municipal Luísa Todi deixou um conselho. “Façam desporto e persigam os vossos sonhos. Mas nunca abandonem os estudos. O conhecimento académico é para sempre”, afirmou João Cabeçadas, natural de Setúbal, o mais internacional dos navegadores portugueses.
Igualmente no dia 11, ao final da tarde, João Rodrigues e João
Cabeçadas foram homenageados pela Câmara Municipal de Setúbal,
iniciativa no âmbito da Cidade Europeia do Desporto 2016 à qual o Comité
Olímpico de Portugal se associou, em cerimónia realizada no Salão Nobre
dos Paços do Concelho.
“Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016 tem o privilégio de homenagear dois dos maiores atletas nacionais, um setubalense, João Cabeçadas, e um madeirense, João Rodrigues, ambos detentores de diversos títulos mundiais, europeus e nacionais”, destacou o vereador com o pelouro do Desporto na Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina.
O autarca destacou a importância dos atletas para o desporto e salientou marcos dos currículos dos velejadores. “João
Cabeçadas é considerado o velejador português com maior número de
viagens oceânicas na vela de alta competição, enquanto João Rodrigues é o
atleta português com mais participações em Jogos Olímpicos.”
Na cerimónia, que contou com a participação da vice-presidente do
Comité Olímpico de Portugal e patrona de Setúbal Cidade Europeia do
Desporto 2016, Rosa Mota, o vereador agradeceu “o grande contributo” dos dois atletas para o “desenvolvimento do desporto em Setúbal”.
Pedro Pina enfatizou este contributo surge num ano em que o município está “particularmente
focado em tudo fazer para chamar a atenção para a importância da
prática da atividade física e desportiva, para a qualidade de vida e
para o desenvolvimento harmonioso e equilibrado do indivíduo e da
sociedade”.
A homenagem contou ainda com a presença, entre outros, do diretor da
Federação Portuguesa de Vela, António Peters, do presidente do Clube
Naval Setubalense, Hugo O’Neill, do presidente do Clube de Vela do Sado,
António Santos, e do diretor da Associação do Atletas Olímpicos de
Portugal, Nuno Barreto.
No mesmo dia, de manhã, os velejadores participaram na iniciativa
“Embaixador Vai à Escola”, com João Cabeçadas a partilhar as venturas e
desventuras pelos mares e João Rodrigues a explicar como é ser o
português com mais presenças nos Jogos Olímpicos a mais de mil crianças
de escolas de Setúbal e de Azeitão.
Fonte: Câmara Municipal de Setúbal
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