segunda-feira, 28 de julho de 2014

A análise do presidente da AF Setúbal à temporada

Joaquim Sousa Marques, presidente da direcção da Associação de Futebol de Setúbal, garante que a última época teve nota positiva. Ainda assim, em discurso directo, o dirigente assume dificuldades nas três modalidades, mas não hesita em elogiar a prestação das nossas selecções e não esquece a arbitragem e a segurança nos campos.


Que balanço, global, faz da última temporada das provas organizadas pela AF Setúbal?
Positivo. Independentemente das dificuldades dos clubes e da conjuntura, verificou-se que não houve um decréscimo significativo do número de atletas. As provas decorreram com normalidade, mantiveram a competitividade e, portanto, face ao cenário imposto pela conjuntura nacional, considero que tivemos uma temporada positiva. Sem casos significativos, daqueles que nos deixam tristes. Há sempre um ou outro, que lamentamos, mas nada com uma gravidade excessiva que seja preocupante.

Principais destaques no futebol…
O nosso principal campeonato de seniores foi, mais uma vez, competitivo quase até ao final da prova, quer pela subida quer na discussão pela permanência.

Na segunda divisão o problema continua a ser o mesmo, ou seja a escassez no número de equipas. No entanto, independentemente desse facto, a prova é competitiva. A nossa análise é há muitos jovens que não conseguem praticar o escalão de seniores. Temos procurado combater essa realidade com algumas medidas, nomeadamente através do incentivo à inscrição de jogadores mais jovens. Contudo, é no escalão de seniores que se faz sentir as maiores dificuldades dos clubes.

Na formação continuamos a ter as provas muito concorridas e competitivas. Este ano, vamos tentar fazer uma alteração no futebol de 7, no sentido de procurar que algumas das melhores não fiquem pelo caminho mais cedo. São pequenos ajustes, que, talvez em 2015/16, venham a assumir outra dimensão no modelo competitivo, mas que ainda estamos a preparar.

E no futsal?
No futsal, o problema é ainda mais acentuado, em relação ao futebol, no que respeita à escassez de equipas. Recordo que na última época só começamos com quatro equipas seniores, numa taça. Depois conseguimos introduzir alterações, que garantiram um campeonato para seis equipas. Mas é, manifestamente, insuficiente. Penso que o futsal no distrito tem capacidade para crescer, há muito mais equipas a praticar o futsal sénior, mas que se vão espalhando por aqui e por ali, com competições mais concelhias. Desejamos que essas equipas venham para o seio da associação e renovem a sua dinamização, com o objetivo de engrandecer a competição.

Confio que voltaremos uma prova distrital forte. Trabalha-se bem no futsal. Recordo que esta época, vamos ter uma equipa no primeiro campeonato nacional de sub-20, que esteve presente na final-four da competição de juniores e que diz bem do bom trabalho que os clubes fazem na formação. É preciso aproveitar esse trabalho nos escalões seniores, mas só será aproveitado com a possibilidade desses jovens competirem.

Consegue identificar o melhor da época?
Considero que o resultado e o corolário do trabalho dos clubes pode ser avaliado, também, pelo desempenho das nossas seleções distritais. E porque é significativo para nós, em função desse trabalho, destaco a nossa vitória no torneio inter-associações em futsal feminino, em sub-21. Somos uma associação pequena, com poucos atletas, com poucos clubes, mas independentemente dessa realidade, conseguimos formar um bom grupo de trabalho e atingir um feito ímpar. Além dessa proeza, não posso deixar de acrescentar também, como corolário do trabalho dos clubes, o excelente 3.º lugar que alcançamos no torneio “Lopes da Silva”, em futebol sub-14. Um resultado igualmente significativo, porque demonstra que os clubes estão a trabalhar bem na formação e o reflexo também se mede nas seleções distritais, que, ainda, no patamar do futebol sénior, levaram o nosso nome à fase final do torneio nacional federativo.

E no lado menos agradável?
As agressões verificadas num jogo de futebol de iniciados (Fabril-Paio Pires) foi algo que marcou pela negativa e que desvirtua, totalmente, o futebol que é praticado no seio da nossa associação. Fomos igualmente confrontados com uma outra situação, completamente fora da normalidade, como foi aquele caso de um pai armado, no campo do Montijo. Episódios, felizmente, raros, que não se justificam em nenhuma categoria, mas ainda menos em competições ao nível da formação. Desejamos que não voltem a acontecer e que queremos erradicar do nosso futebol, definitivamente. Porque o que temos de promover é o fair-play e incutir nos nossos jovens esse tipo de valores.

Na última época, a direção da AFS recebeu uma quantidade anormal de queixas dos clubes?
Há sempre um conjunto de questões que nos fazem chegar ao nosso conhecimento, mas nada fora do normal. O que aconteceu esta época foi uma maior inter-ação com os pais dos jogadores. A quantidade de comunicações que recebemos dos pais, muitas vezes até a fazerem queixas de treinadores e dos clubes, que é algo que não se justifica e que não contribui de facto para um bom serviço, numa situação promovida à margem dos clubes. É uma realidade nova. Não vou questionar se têm ou não razão, considero é que essas coisas devem ser tratadas no seio dos clubes.

Quanto à nossa comunicação com os clubes, temos sempre a porta aberta para o diálogo. Não temos sempre o dom da verdade e estamos a abertos a correções. É desta comunicação que conseguimos fazer um futebol melhor.

Nós procuramos fazer um trabalho de independência relativamente aos clubes, tenham o nome que tenham, a dimensão que tenham. O importante é que as provas corram com a normalidade desejada e a competitividade desejada.

AS NOSSA SELEÇÕES
Ainda sobre as seleções distritais. Sente que a representatividade da camisola da AFS começa a ganhar outro brilho?
Nós, anualmente, temos conseguido bons resultados com as nossas seleções. Na época finda, foi melhor do que em anos anteriores, mas o importante é que os clubes percebam que estas seleções existem para mostrar o seu trabalho e o dos jovens que com eles trabalham diariamente. Sabemos que quem veste a camisola da associação sente um motivo de orgulho, porque é um reconhecimento e representa estar, de facto, entre os melhores do nosso distrito.

A vitória das sub-21 no futsal sénior foi o mais importante de sempre para a modalidade e para o futsal da AFS. 
Já vencemos outros torneios nacionais, mas no futsal, foi claramente o mais importante triunfo. Quando estas jovens, que sentem tantas dificuldades competitivas no plano regional, conseguem lutar com seleções mais fortes, algo de muito positivo deve ser assumido. Conseguiram formar um espírito guerreiro. Muito unidas. Sentiram muito a honra de vestir a camisola da associação e ganharam com inteiro mérito.

Ainda no plano competitivo, como analisa o 3.º lugar da nossa seleção de futebol de sub-14?
O resultado foi brilhante. É um torneio difícil. Os miúdos estiveram, pela primeira uma semana fora de casa. Depois é uma prova muito exigente em termos físicos, porque há jogos todos os dias e é sempre uma incógnita perspetivar o que pode acontecer. Estamos a falar de iniciados de primeiro ano, grande parte deles, sem hábitos competitivos muito apurados nos seus clubes. Esta seleção superou as expectativas. Tiveram um comportamento exemplar, estiveram em crescendo de jogo para jogo e foi por muito pouco que não conseguimos o acesso à final. Por um golo! Mas foi bom. O 3.º lugar conseguido perante uma associação como a de Lisboa que habitualmente é a vencedora do torneio, é muito meritório. Seria, igualmente, um bom corolário, a chamada de alguns dos nossos jovens para a convocatória da primeira seleção de sub-15 nacional. Refletia o valor dos nossos atletas e do trabalho dos clubes.

A AFS co-organizou pela primeira vez na sua história, nos atuais moldes, a edição 2014 do torneio “Lopes da silva”. O que fica desta prova de confiança da FPF?
Foi uma prova de confiança e talvez um prémio pelo trabalho que os clubes a associação fazem em prol do desenvolvimento da formação. Para nós foi ainda mais importante, uma vez que foi no ano em que a federação assinala o seu centenário. Ficámos felizes, recebemos de braços abertos, e tivemos a colaboração fundamental da Câmara de Almada, além de todos os clubes locais, que cederam os seus campos para a prova. Não foi fácil organizar uma prova que trouxe até nós cerca de 600 pessoas, envolvidas em 22 equipas, mas tudo correu bem. Foi um bom momento para promovermos o futebol no distrito. Recebemos um reconhecimento geral pelo trabalho feito e isso deixa-nos satisfeitos.

OS CURSOS TÉCNICOS E A FEDERAÇÃO
Os regressos dos cursos de treinadores de futebol e futsal foram importantes?
Foi mau termos um longo intervalo. Em boa hora os cursos foram reabertos, ainda que haja coisas a melhorar. Sabíamos que havia muita vontade das pessoas ganharem qualificação para fazerem melhor trabalho e o resultado será refletido nos jovens e nos clubes. Foi pena no futsal não termos conseguido avançar no II Nível.

No plano da arbitragem, a AFS continua a não ter um árbitro de futebol internacional.
De facto, não temos conseguido manter a nossa representatividade como noutros tempos. Há árbitros que tem abandonado, pelo limite de idade, e não temos conseguido fazer a renovação. Também as exigências são cada vez maiores.

Todavia, a AFS através do seu Conselho de Arbitragem continua a fazer o seu trabalho. Os núcleos continuam a colaborar e vamos acreditar no trabalho que fazemos. Um trabalho que demora tempo.

O relacionamento institucional com a Federação está normal?
Está bom. Estamos todos unidos para trabalhar em prol do desenvolvimento futebol . Temos vindo a trabalhar num espírito de grande colaboração e o relacionalmente vai para além do institucional. As pessoas conversam, há abertura e trabalhamos pelo mesmo caminho., ainda que, naturalmente, não estejamos sempre em acordo com tudo.

TAÇA AFS PARA TODOS
Em 2014/15, a Taça AFS  assume-se, pela primeira vez, como obrigatória para as equipas da I Distrital.
A partir do momento em que começou a fazer parte do nosso calendário oficial, e porque dá um apuramento direto para a Taça de Portugal, tínhamos que a tornar obrigatória.

Os moldes e o calendário em que a Taça AFS se disputa permite fazer uma pré-época em competição, que creio ser muito importante. Foi uma prova que começou com ‘pézinhos de lã’ e agora está enraizada.

A segunda edição da Taça Inter-distrital já tem data definida?
Vai ser no dia 16 de agosto. Este ano, será disputada na Malveira, em função da alternância estabelecida entre as duas associações, porque a equipa representante da AF Lisboa foi o Atlético da Malveira.

A segunda distrital pode vir a ter mais equipas?
Não sei. Vamos ver a decisão de alguns clubes, que podem ver as virtudes de participar nesta prova ao invés de outras com menos relevo. Estamos sempre à espera que esta competição possa crescer. Sabemos que as dificuldades continuam a existir. Não alteramos as taxas há muito tempo, inclusivamente as taxas de arbitragem foram até reduzidas, mas não podemos baixar mais os custos, porque os valores pagos pelos clubes são os custos que temos com a própria organização.

Que desafios tem a AFS para o futuro breve?
Queremos crescer. Queremos ver o futebol do distrito a crescer. Somos um distrito de futebol. Temos condições para isso. É isso que queremos proporcionar aos clubes. Na formação, mas também voltar a ter um papel de relevo no futebol sénior. Pensamos que os nossos jovens devem ter a oportunidade de fazer a sua evolução natural e chegar aos seniores, sem terem que travar a atividade depois de tantos anos ligados ao futebol, devido à falta de equipas.

O centro de estágio da AFS é um sonho que nunca passará disso?
Temos de ter os pés assentes no chão. Sonhar não custa. Mas a conjuntura atual não permite pensar nisso, para já. Está na gaveta, mas não está esquecido. Vamos esperar por novas oportunidades, porque a conjetura, de facto, não permite.

Texto e foto: Notícias AFS
Texto alterado em concordância com o acordo ortográfico

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